Sem estrelas nacionais, Cajazeiras aposta na força da cultura popular para celebrar o São Pedro
Neste mês de junho, Cajazeiras não espera grandes nomes da música para brilhar: a estrela principal é o próprio povo. A tradicional celebração do São Pedro na região acontece dentro do projeto Xamegão Cultural, que movimenta o bairro desde o início do mês com quadrilhas, forró raiz e festivais de música. A festa segue até 28 de junho, sem grandes atrações nacionais, mas com o coração nordestino pulsando forte nos becos, ruas e largos da comunidade.
“Aqui o São Pedro não precisa de estrela da TV para ser grandioso. A tradição fala mais alto”, afirma Dona Lurdes, 72, moradora da Fazenda Grande II, que monta sua barraca de bolos e mingaus há mais de 20 anos na festa.
Um palco para o povo
Longe dos supercachês e dos palcos gigantes das festas privadas de Salvador, Cajazeiras aposta em um modelo comunitário, com foco na valorização da cultura local. O evento inclui o Festival de Músicas Forrozeiras Juninas, que premiará artistas da região com mais de R$ 10 mil, além de desfiles de quadrilhas, mostra de dança e muita zabumba.
Segundo a Secretaria de Cultura, o objetivo é “preservar o espírito original dos festejos juninos” e descentralizar o calendário cultural da capital baiana.
“Nosso palco é plural. Recebe desde a juventude do forró universitário até mestres do forró pé-de-serra, que há décadas encantam com sanfona, triângulo e poesia”, explica Eduardo Jorge, secretário municipal de Cultura.
São Pedro com raiz e resistência
Com o São João cada vez mais dominado por grandes estruturas e shows milionários, o São Pedro de Cajazeiras representa uma resistência cultural. É o bairro celebrando sua própria história — sem depender de atrações de fora para se afirmar.
E mesmo sem nomes de peso da música nacional, o público comparece. Famílias inteiras lotam as praças e largos, vestidos com xadrez e cheios de orgulho. A economia local também se aquece: barracas de comidas típicas, costureiras, eletricistas e músicos encontram na festa uma oportunidade de renda e visibilidade.
Um festejo que é do povo
A ausência de artistas nacionais não é vista como problema por quem vive o bairro.
“A gente não quer Ivete ou Gusttavo Lima. A gente quer o trio do bairro, o sanfoneiro da rua, a quadrilha da escola. É isso que faz o São Pedro daqui ser de verdade”, diz Igor Oliveira, integrante da quadrilha Raízes do Sertão.
Em Cajazeiras, o São Pedro não precisa de camarote. Basta um palco, um forró bem tocado e a alegria de um povo que transforma tradição em espetáculo. Sem estrelas importadas — mas com brilho em cada rosto da comunidade.
Notícia anterior
Carro bate em moto de entrega de gás na Av. Garibaldi e deixa o trânsito lento
Próxima notícia
Moradores cobram urgência: Apenas Quatro Semáforos para Mais de 400 Mil Pessoas