Mito ou realidade? A força das mulheres de Cajazeiras vai além dos números
Corre pelas redes sociais e pelos debates comunitários uma afirmação que tem despertado atenção: "Cajazeiras é um bairro majoritariamente feminino, onde 70% da população é composta por mulheres." Apesar de sedutora, a informação não se sustenta nos dados oficiais mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Ainda assim, ela revela algo mais profundo: a força simbólica e real da presença feminina em uma das regiões mais populosas de Salvador.
O que dizem os dados?
Segundo o Censo Demográfico de 2022, Salvador é, de fato, uma cidade majoritariamente feminina, com 54,4% de mulheres. Isso significa que há cerca de 83 homens para cada 100 mulheres na capital baiana — um dos maiores desequilíbrios do país.
Em Cajazeiras, embora não existam dados atualizados por bairro no novo censo, registros de 2010 já apontavam uma leve maioria feminina nas localidades da região: algo entre 53% e 54% de mulheres, dependendo do setor.
Ou seja, o número de 70% é um mito estatístico, mas ele escancara uma verdade social: são as mulheres que movem Cajazeiras — na economia, na cultura, na política e na resistência.
Mulheres à frente de tudo
Quem anda por Cajazeiras percebe com facilidade: são elas que dominam o comércio informal, comandam organizações comunitárias, estão à frente de igrejas, lideram movimentos sociais e são a maioria nas salas de aula e nas filas dos postos de saúde.
“A mulher de Cajazeiras acorda cedo, trabalha o dia todo, cuida dos filhos, estuda à noite e ainda encontra tempo para lutar pelo bairro”, resume Claudiana Souza, liderança comunitária da Fazenda Grande II.
De vendedoras de marmita a professoras, de mães solo a empreendedoras digitais, elas criam e recriam o bairro todos os dias — mesmo diante da violência, da ausência do Estado e das barreiras históricas de gênero e classe.
Representatividade ainda distante
Apesar de serem maioria, as mulheres de Cajazeiras ainda enfrentam desafios para ocupar espaços formais de decisão. Poucas ocupam cargos eletivos ou de liderança institucional. A luta por uma creche pública, por mais segurança ou por um centro de apoio à mulher vítima de violência segue sendo travada na base — e, quase sempre, por elas mesmas.
“A estatística pode não bater nos 70%, mas o peso da responsabilidade feminina no bairro é de 100%”, afirma Marília França, jovem ativista cultural da região.
Uma força que não cabe em números
A história de Cajazeiras — marcada por migração, urbanização acelerada e desigualdade — também é a história de suas mulheres: invisibilizadas nos relatórios, mas indispensáveis nas ruas.
Portanto, mesmo que 70% seja apenas um número simbólico, ele representa com precisão o que se vê no cotidiano: Cajazeiras tem rosto de mulher. E é com elas que o futuro do bairro será construído.
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